Caça às Bruxas

É incrível a necessidade que o ser humano tem de, mesmo à medida que vai evoluindo, de fazer caça-às-bruxas.
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, e deveria acrescentar, mudam-se os requintes e as tecnologias…
Desde os tempos mais famosos das, literalmente falando, caça às bruxas na Idade Média, o gostinho pela actividade ficou, e se ainda não foi instituído desporto mundial, é porque existem atitudes paralelas com nomes de, por exemplo, “politicamente correcto”, (que não é mais do que um livro de etiqueta alargado para fora das festinhas vip’s, sem qualquer respeito pela “opinião pessoal”; opinião essa que correcta ou incorrecta, não tem qualquer validade.)
As Idades foram mudando de nome, as bruxas foram queimadas vivas, mas as caças continuaram. Eu não acredito em caças, mas que elas há, há….
Os meus conhecimentos de História não são maiores que os da maioria da população, por isso devem saber do que eu estou a falar quando refiro a caça às bruxas nos E.U.A., nos anos 50, e agora até já posso dizer a palavra: comunistas. Comunistas! (Foi só para ter a certeza de que ainda podia dizer.)
Com a queda do muro de Berlim, e os próprios a passar à História, achou-se que já não eram uma ameaça, e a palavra pôde entrar nos circuitos de conversação, como politicamente correcta e até aceitável falar deles, desde que acompanhada de três reticências e uma expressão que sugira “passado”.
Para além das caças aos grupos de minoria étnica, das caças de ordem religiosa ou política, até às caças aos grupos mais vulneráveis que começaram com o apedrejamento dos toxicodependentes, mas que à medida em que cada lar começou a ter o “seu” já era mais desconfortável apedrejar os outros, sem que o “nosso” escapasse ileso sem mais uma pedrada na cabeça. Então, deixaram de ser encarados como os Demónios da Tasmânia e Arredores, e passaram a ser os coitadinhos, e até ser politicamente correcto aceitá-los como doentes, de uma doença não contagiosa mas que se pega a uma velocidade contagiante, e deve-se ajudar com amor e compreensão, mas a uma distância segura, na ordem dos cinco metros.
Mas a evolução não pára, (nem pára e à vezes parece que nem evolui…), os métodos é que se vão refinando e as caças agora tem de ter um suporte legal. Primeiro faz-se a lei e legaliza-se a caça.
Posso assegurar, que nesta década, se iniciaram duas caças: uma aos terroristas, e a outra…. aos fumadores!
Serei uma taliban urbana, suicida e pronta a levar comigo para o Além meia dúzia de vítimas (os famosos fumadores passivos)? Ah, Sou!
Mas tal como eles, acuso-me como um produto da sociedade. Lançam as redes depois marginalizam-nos por as termos agarrado e nos termos enredado nelas. Pior, tenho que pagar em euros para me matar, e em euros para me curar…. Já para não falar no que pago com o corpo.
Em pleno século XXI, sinto-me a bruxa do gato preto, prestes a ser lançada viva na fogueira, olhada de lado na rua por me ir matando no meu pequeno pecado, eu que nem tenho o hábito de passear pitbuls raivosos sem açaime e treinados para atacar ao mais leve pronunciar de uma palavra afectuosa, como “amor”.
E pelo o que conheço da vida, vão ser mordidas mais crianças até se fazer a caça aos cães sem açaime, que já deveria ter começado. Ou então façam uma caça aos aceleras, que eu até acho que deveriam ter licença especial de porte de arma. Por favor, eu também sou gente, vão caçar outro!
Mudam-se as bruxas, mudam-se as caças….os gatos pingados é que são sempre os mesmos.

Isabel Peres / 2004

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